segunda-feira, 9 de abril de 2012

A neurofisiologia como conceito básico - Parte 2

No último artigo falamos um pouco sobre ajustes posturais, que somente se tornam possíveis graças às aferências, aquelas informações que vão dos receptores espalhados pelo nosso corpo até o cérebro, e que, de maneira geral, chamamos de propriocepção.

Muito importante também entender que outros sentidos, principalmente a visão, podem nos informar sobre nossa postura, tanto que pessoas com alterações articulares têm maior dificuldade para descrever o posicionamento de um membro ou da cabeça se estiverem de olhos fechados, fato esse já demonstrado em vários estudos.

Quando o bebê nasce, recebe uma carga genética de informações básicas de como será sua postura e de como será sua personalidade, mas esses fatores têm apenas uma influência parcial sobre como será sua postura. O ambiente no qual ele se desenvolve, as pessoas à sua volta, os esportes que ele praticar e as lesões que ele tiver também influenciam em como se desenvolverá sua coordenação motora e, como conseqüência final, sua postura.


Em última análise, nossa história está registrada em nosso corpo em forma de postura e nos dá uma identidade única, com uma forma totalmente individualizada de movimentos, que nos distingue como seres únicos, até mesmo na forma de andar. Já se fala em criar programas de identificação de marcha (forma como as pessoas caminham) no futuro, assim como existem hoje programas que reconhecem indivíduos por características da face.

Todos esses dados estão registrados no cérebro, mas ao contrário do reconhecimento da face, que muda muito pouco com o passar de alguns anos, o reconhecimento de marcha ocasionaria um problema maior, pois hoje já se sabe que as informações registradas no cérebro estão em constante mutação (plasticidade). Em um estudo liderado por Miguel Nicolelis, renomado neurofisiologista, ficou constatado que o simples fato de uma área da pele ser anestesiada faz com que diminua momentaneamente a representação cortical daquela parte do corpo. Portanto, uma simples entorse de tornozelo alteraria nossa marcha, impedindo que um programa de computador reconhecesse um indivíduo pela sua marcha.

Da mesma forma que uma entorse ou qualquer outra patologia no sistema músculo-esquelético pode alterar nossa marcha, nosso movimento, nossa postura, um treinamento sensório-motor pode reestruturar movimentos coordenados da marcha ou até mesmo de um arremesso, para que se corrija uma alteração que tenha sido identificada como responsável por um processo lesivo.

Essa é a base que justifica trabalhos posturais como o RPG, a quiropraxia e a força dinâmica, que promovem ajustes posturais que têm como resultado a reestruturação e a reorganização biomecânica e, por consequência, da coordenação motora.